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Nas obras figurativas de Gisele Sperb, a questão do tempo é embalada pela observação atenta à rapidez e à fluidez dos momentos vivenciados pelo sujeito contemporâneo. A artista refletida em uma selfie no espelho revela a ela e a nós mesmos.  
Na instalação em que dentro de um cubo de gelo encontra-se um celular, Autorretrato - 2016, nos deparamos com a angústia e o desconforto ao ver um objeto tão “necessário” e “essencial” preso, acorrentado pelo tempo, tempo que derrete lentamente, tempo que não temos na contemporaneidade. 
Na série de fotografias Experiência – 2017, a fragmentação causa um estranhamento, talvez ela queira que o observador dedique um pouco mais do seu tempo na fruição ao não tornar óbvio o objeto fotografado.
A artista retoma o tempo. Suas pinceladas enérgicas carregadas de expressões se acumulam e se mesclam alcançando a abstração. E, é neste processo contínuo que observo a névoa que paira no quadro de Gisele Sperb, Sem título -2017, uma névoa que que transborda para além dos quatro vértices. Essa mesma sombra(?) assustadora e enigmática que vejo na Lenda do Cavaleiro sem Cabeça de Washington Irving. Perdido na floresta, no campo de Batalha de Louchbuie, o Cavaleiro vive entre o passado e o presente que se fundem na suspensão do tempo. 
Nas pinturas de 2018, a artista assume suas pinceladas expressivas sobrepostas aos vestígios de figuras e espaços que se mesclaram até a abstração. 
Os trabalhos de Gisele nos fazem refletir sobre como experienciamos ou vivenciamos nosso cotidiano, como nos perdemos no nosso próprio tempo, nessa locomotiva que nos arrasta até o próximo dia.  

 
Luana Bandeira 
Bacharel em Artes Visuais

Centro de Artes, Universidade Federal de Pelotas, 2019.

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